Diante da forte resistência europeia aos transgênicos, o conglomerado químico alemão Basf resolveu mudar de estratégia. A empresa anunciou no dia 16 de janeiro de 2012 que vai concentrar suas pesquisas de biotecnologia vegetal no continente americano: a sede corporativa da Basf Plant Science deixará de ser em Limburgerhof, na Alemanha, e passará para Raleigh, nos Estados Unidos.
"Nós estamos convencidos de que a biotecnologia vegetal é uma tecnologia-chave para o século 21. No entanto, ainda há pouca aceitação dessa tecnologia em muitos locais da Europa - pela maioria dos consumidores, agricultores e políticos", disse Stefan Marcinowski, membro da junta diretiva mundial da Basf, ao explicar a decisão.
Consequentemente, a empresa encerrou o desenvolvimento e a comercialização de todos os produtos que, até então, eram voltados para o mercado europeu. Os processos aprovados, no entanto, terão continuidade. "Sob uma perspectiva de negócios, não faz sentido continuar investindo em produtos cuja comercialização é direcionada exclusivamente para esse mercado [europeu]", alegou Marcinowski em nota oficial.
Lucros e empregos
O grupo ambientalista Greenpeace disse não se surpreender com a notícia. "É realmente apenas um passo lógico e empresarial que certamente faz sentido. Por um determinado tempo a biotecnologia vegetal certamente não tem chances na Europa", respondeu à DW Brasil o ativista Dirk Zimmermann, do escritório alemão da ONG.
Na visão do ativista, o consórcio alemão manteve por algum tempo a esperança de que esse panorama mudasse, após a aprovação da batata Amflora, em 2010 - um "fiasco total", na avaliação de Zimmermann.
Com a mudança da Basf Plant Science para os Estados Unidos, 140 postos de trabalho serão fechados na Europa. "Nossos colaboradores realizaram um excelente trabalho nos últimos anos. Lamentamos a redução dessas posições de alta qualificação na Alemanha e na Suécia", afirmou Marcinowski.
Uma questão de atratividade
A empresa passa a se dedicar com mais intensidade aos "mercados mais atrativos das Américas do Norte e do Sul", além do mercado asiático crescente. Nos Estados Unidos e no Brasil, o cultivo de sementes geneticamente modificadas é permitido -- Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Chile, Honduras e México também estão na lista.
"Eu acho que a engenharia genética também não tem futuro na América: soluções sustentáveis para a agricultura não são consideradas e não há ganhos mais elevados", acrescentou Zimmermann, do Greenpeace alemão.
No caso do Brasil, as primeiras sementes transgênicas chegaram ao país clandestinamente, em 1997. De lá para cá o governo liberou as lavouras desse tipo e o país, em 2010, registrou uma área de 25,4 milhões de hectares de cultivo transgênico, diz a pesquisa mais recente da Isaaa, órgão internacional que estuda o setor.
Além da soja, semente transgênica mais difundida no Brasil, o milho e o algodão também são liberados. Recentemente, as autoridades brasileiras deram sinal verde para o feijão geneticamente modificado desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e mantiveram a discussão sobre a liberação do arroz.
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), os fazendeiros passaram a cultivar transgênicos já a partir de 1996, ano em que o país autorizou esse tipo de tecnologia. Em 2011, cerca de 94% da área de soja plantada no país era geneticamente modificada. Outras sementes largamente usadas são as de algodão e de milho.
Ainda assim, segundo a análise do Greenpeace, não há garantias de que a Basf será bem-sucedida nos Estados Unidos, já que o mercado local está muito dividido. "E no resto do mundo há cada vez mais rejeição", complementou Zimmermann.
"No entanto, para a Europa, essa é uma mensagem extremamente importante. Eu espero que os concorrentes da Basf sigam esse exemplo", disse o ativista alemão.
FONTE
Deutsche Welle
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler
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